Os movimentos de independência na
América Espanhola resultaram na fragmentação dos antigos vice-reinos e na
formação de várias repúblicas.
Estrutura social:
. Chapetones: espanhóis
representantes da metrópole na América Latina, determinando uma elite
política.
. Criollos: descendentes de espanhóis nascidos na América, determinando
uma elite econômica que deseja participar mais ativamente da política. Os
criollos nutriam preconceitos de classes mais baixas.
.
Indígenas: sofriam as práticas da mita e da encomienda.
. Mestiços: pequenos comerciantes, proprietários, artesãos e
funcionários.
. Escravos.
O processo de independência de
diferentes áreas na América Espanhola normalmente era comandado pela elite
criolla.
. Pan-americanismo
. Ideias precursoras presentes
desde o século XVIII.
. Ideal de união e solidariedade entre os povos americanos, através da
língua comum e da cultura comum.
. Bolivarismo
Representa a visão concebida por
Simon Bolívar (1783 – 1830), venezuelano que dirigiu a luta pela independência
da Venezuela, Colômbia Peru e Equador. Ele defendeu a necessidade de união,
influenciado pelas ideias do pan-americanismo, em face à possível
contraofensiva da Espanha apoiada pela Santa Aliança.
“Eu desejo, mais do que qualquer outro, ver formar-se na América a
maior nação do mundo, menos por sua extensão e riquezas do que pela liberdade e
glória.”- Simon Bolívar
A partir do Bolivarismo e das
ideias de união dos países que compunham a América Latina, houve a criação da
Grã- Colômbia (1819 – 1830), cuja duração foi efêmera e, posteriormente, se
fragmentou em 3 Estados: Venezuela, Equador e Colômbia (da qual faz parte o
Panamá). Houve tentativa de integrar a Bolívia e o Peru na Grã-Colômbia, que
não se concretizou em função de interesses regionais.
No Congresso do Panamá, em 1826,
considerado a primeira grande manifestação do pan-americanismo, foi aprovado um
compromisso de preservação da paz continental, abolição da escravidão, a cota
que caberia a cada país para que houvesse a formação militar para a defesa
comum, entre outras determinações.
. Fracasso do Congresso:
resistência dos EUA (pretensão de expandirem-se para as Antilhas e o medo da
abolição da escravidão), oposição do Brasil (monarquia contrária a governos
republicanos e à abolição da escravidão), oposição da Inglaterra (não tinha
interesse em ver se formar uma América unida e forte).
Desse modo, o Brasil e os Estados
Unidos passam a ser excluídos de congressos posteriores com âmbito de união
influenciado pelas ideias do pan-americanismo. Estados Unidos em virtude do seu
expansionismo envolvendo anexos do México e o Brasil devido às suas
intervenções no Rio da Prata. Ambos os países tinham políticas contrárias à
solidariedade continental.
Apesar dos fracassos, os ideais
de Pan-americanismo Bolivarista lançaram as bases da solidariedade continental
assentada em posição de igualdade entre os povos.
As elites dirigentes das jovens
repúblicas depararam-se com uma dificuldade: honrar o ideário liberal que
motivara as revoluções e remover os entraves das heranças coloniais. O problema
era que essas elites eram ancoradas por várias das antigas estruturas, como o regime
latifundiário e o trabalho compulsório imposto aos indígenas e aos mestiços.
As alternativas políticas
. No final de 1820, prevaleciam
dois projetos políticos em todas as repúblicas da América Espanhola: o dos
conservadores e o dos liberais. Entre eles havia um objetivo comum: a
manutenção da hierarquia social, o que significava a manutenção do poder político
da elite criolla sobre os camponeses e trabalhadores indígenas, negros e
mestiços, todos considerados inferiores à elite.
. O projeto dos conservadores
baseava-se na defesa da Igreja (mantendo as isenções fiscais desfrutadas pelos
seus membros e a obrigatoriedade do ensino religioso como meio fundamental de
se propagar a religião) e na força do exército. A Igreja tinha muitos
privilégios. Além da isenção de impostos, seus membros possuíam, muitas vezes,
grandes propriedades de terras. A centralização do poder também era algo muito
frequente nos discursos dos conservadores.
. Os liberais, sob influência do
Iluminismo e dos ideais revolucionários franceses, tinham por objetivo a
separação entre a Igreja e o Estado e a defesa do Ensino laico. Defendiam ainda
um regime republicano federalista, descentralizado, embora nem todos os
liberais fossem contrários à Monarquia Constitucional.
As circunstâncias econômicas
. O advento do capitalismo na
Europa e sua expansão pelos demais continentes, juntamente com as novas teorias
econômicas (liberalismo econômico) e a Rev. Industrial (que fez com que muitos
países da Europa procurassem novos países para vender seus produtos) foram
responsáveis pelo que se convencionou chamar de Nova Divisão Internacional do Trabalho. Isso quer dizer que: a
América Latina se convertia, a partir de então, em produtora de matérias-primas
e de gêneros alimentícios para a Europa e, mais tarde, EUA.
Ao mesmo tempo, ela teria a
obrigação de consumir os produtos industriais europeus e estadunidenses. Como
os preços dos produtos industrializados eram superiores aos de matérias-primas
e dos gêneros primários, era muito comum ocorrer déficits comerciais elevados,
que só eram quitados com empréstimos externos, aumentando ainda mais a
dependência da América Latina por países estrangeiros e mais desenvolvidos.
Essas circunstâncias econômicas,
políticas e sociais explicam o fenômeno do caudilhismo típico da América
Latina.
Caudilhismo
O caudilho era o líder político
regional, muitas vezes de origem militar, mas em geral, um grande proprietário
de terras, que comandava um exército particular formado por seus peões. Era
dotado de grande carisma, possuindo uma postura patriarcal e autoritária.
Caudilhismo refere-se ao tipo de
governo de grande parte dos países que surgiram após o processo de
independência da América Espanhola, cujos líderes dominaram a esfera política
ou lutaram pelo controle do Estado Nacional.
O México
No México a Igreja juntamente com
o exército e os grandes proprietários rurais integrava o grupo conservador,
defendendo como forma de governo uma monarquia forte e coesa, capaz de manter o
controle da população, ainda sobre a influência das ideias libertárias e
populares dos padres Hidalgo e Morelos.
Em oposição aos conservadores, os
liberais, oriundos dos setores médios urbanos (incluindo comerciantes e grupos
ligados à mineração), defendiam um estado republicano, federativo e laico.
É importante ressaltar que a
independência do México começou em 1810 com uma revolta popular comandada pelo
padre Hidalgo, e o mesmo se repercutiu em 1813 com o padre Morelos. Hidalgo era
adepto aos ideais iluministas e era muito popular nas comunidades locais. Após
meses de luta, o movimento perdeu força e se dispersou. Padre Hidalgo foi
executado.
Entre 1813 e 1815, outra revolta
ocorreu ao sul do México, liderada por Morelos. Sob sua orientação,
organizou-se um exército de aldeãs, que tinha como metas o fim da escravidão e
do sistema de castas e a suspensão do tributo pago pelos povos indígenas.
Em 1813, foi fundado um órgão
máximo do governo insurgente, chamado Congresso Nacional de Chilpancingo, que
declarou a independência da América espanhola setentrional. No ano seguinte, o
Congresso Chilpancingo promulgou a primeira Constituição mexicana, fortemente
inspirada nas ideias de Morelos. Os criollos, incomodados com a participação
das camadas pobres e mestiças no processo de emancipação, se distanciaram de
Morelos, que acabou sendo executado em 1815. A independência do México e sua
primeira Constituição foram anuladas.
Aos poucos, vários criollos
voltaram a apoiar a Espanha e ser contra a independência, na esperança de
conquistar a soberania do México por meio de estratégias diplomáticas. Enquanto
isso, grupos guerrilheiros continuaram a agir, dos quais se destaca o Vicente
Guerrero, em Oaxaca. E foi com esse grupo que o oficial monarquista, Augustín
de Iturbide, negociou a retomada de independência do México. A união dessas
forças deu início ao Plano de Iguala, que tornaria o México um país
independente e governado por Fernando VII. Os criollos e os chapetones teriam
seus privilégios preservados, enquanto a Igreja manteria o monopólio religioso.
Em setembro de 1821, a Junta Provisória de Governo decretou a independência do
império mexicano. A Capitania Geral da Guatemala foi incorporada ao império.
Após a independência,
organizou-se um Congresso Constituinte, que estabeleceu uma monarquia governada
pelo imperador criollo Augustin Iturbide. Seu governo durou apenas 8 meses
diante da inabilidade política e administrativa, sendo deposto pelo general
Antônio Lopez de Santa Ana, que foi nomeado o primeiro presidente do México e
através da Constituição de 1824, o país passou a ser definido como república
federativa (inspirada pelo federalismo dos EUA) e oficialmente católica.
Os conservadores mantiveram-se no
poder até 1854, com Santa Anna. Seu governo tornou-se impopular principalmente
devido à perda do Texas. Na guerra que se seguiu contra os EUA, cerca de metade
do território mexicano foi tomada.
Nesse ano, os liberais chegaram à
liderança política, período que ficou conhecido como Reforma. Algumas mudanças na estrutura do
país ocorreram: aboliram-se os direitos dos eclesiásticos e militares cobrarem
pelo uso da terra. As terras comuns das aldeias indígenas foram repartidas e
submetidas ao direito comum. Os liberais pretendiam colocar em prática um
projeto de reforma agrária transformando as grandes terras coletivas indígenas
em pequenas propriedades privadas.
Em 1857, uma nova constituição de
caráter liberal e descentralizador entrou em vigor. Entre os principais líderes
da reforma liberal estava Benito
Juarez.
Toda essa reforma liberal
incluía: reforma agrária implementada, os bens da Igreja nacionalizados e as
ordens religiosas extintas.
Em seguida, uma grande oposição
às reformas liberais leva o país a uma guerra civil (1858 – 1861). Os
conservadores tiveram apoio da Espanha, Inglaterra e França, chegando a enviar
tropas para derrubar o então presidente, Benito Juarez. A monarquia chegou a
ser reestabelecida em 1864, com o apoio de Napoleão III. O trono foi assumido
pelo imperador austríaco Maximiliano (primo do imperador francês), que foi
preso e fuzilado em 1867.
Consolida-se um Estado
republicano e federativo com os liberais retomando o poder novamente e com a
Igreja perdendo o seu poder.
A Reforma agrária não foi bem
sucedida, camponeses e indígenas não conseguiram comprar terras, que foram
parar nas mãos de grandes proprietários. A situação do Estado também era
difícil, com a aquisição de empréstimos do exterior, principalmente dos EUA.
Crescia a insatisfação popular,
com revoltas camponesas e urbanas juntamente com o crescimento do número de
desocupados. Esse clima conturbado marcou os 50 anos que se seguiram à
Independência do México, mas o Estado nacional estava consolidado.
As reformas liberais seriam
aprofundadas por Porfírio
Diaz, que exerceu a presidência entre 1876 e 1911 (pela via eleitoral
com um intervalo de 1880 – 1884). Esse período foi conhecido como Porfiriato. Foi
implantada uma extensa malha ferroviária, com tecnologia e empréstimos
estrangeiros, sobretudo britânicos. O país entrava na era industrial ao mesmo
tempo que a concentração de terras se aprofundava.
A Argentina
O antigo Vice-Reinado do rio da
Prata era composto por regiões que hoje abrangem Argentina, Uruguai, Bolívia e
Paraguai. A independência formal ocorreu em 1816, formando as Províncias Unidas
do Rio da Prata. Mas durante toda a primeira metade do século XIX, travaram-se
lutas internas comandadas pelos caudilhos.
Na Argentina, o processo de
constituição de um Estado Nacional foi lento. Após a independência, existiam no
país três grandes áreas, com interesses diversos e entre os quais ocorriam
conflitos: a província de Buenos Aires, pecuarista, as províncias do interior
às margens do rio Paraná, também pecuaristas e desejosos de preservar o caminho
fluvial para o rio da Prata e as províncias de Córdoba, Rioja e Tucumán, também
no interior (área dedicada à produção de alimentos).
No plano político, o grande
conflito ocorreu entre Buenos Aires e diversas províncias do interior.
Comerciantes ligados ao comércio externo de Buenos Aires, apostando em um
governo centralizado, desejavam estender seu domínio sobre as demais
províncias. Defendiam também o livre comércio e a aproximação com a Inglaterra.
Desse grupo surgiu o Partido
Unitário.
Fazendeiros e pecuaristas
(estancieiros) do interior recusavam-se a seguir essas ideias. A maior parte
dos caudilhos do interior defendia um regime federativo, capaz de assegurar sua
autonomia política. Da defesa dessas ideias, surgiu o Partido Federal.
As rivalidades duraram décadas, o
que sinalizava a ausência de um governo nacional de fato. Foi nesse período que
se destacou o caudilho Juan Manoel Rosas (1829 – 1852), grande estancieiro e
militar.
Rosas pretendia fazer da
Argentina a principal potência da região platina. Tentou barrar o predomínio
econômico da Inglaterra, sendo nesse ponto, contrário ao Partido Unitário. Em
seguida, a marinha inglesa tentou derrubá-lo cercando o porto, mas foi
derrotada. Em 1833, os ingleses ocupam as ilhas Malvinas, próximas ao
território argentino. Após a guerra com o Brasil, em 1852, Rosas foi derrotado
e deposto.
Os governos que se seguiram,
principalmente o de Bartolomeu Mitre (1862 – 1868), conseguiram a unidade
territorial e ampliaram as relações comerciais com a Inglaterra. Investimentos
ingleses garantiram a abertura de ferrovias e o melhoramento dos portos. Houve
um grande afluxo de imigrantes e o extermínio das populações indígenas da
Patagônia e do Chago.
O Paraguai
O Paraguai foi um país que teve o
predomínio de governos autoritários desde a independência, sendo José Gaspar
Rodriguez da Francia o primeiro caudilho a governar (até 1840). É considerado o
“pai” da pátria paraguaia, tendo seu governo concentrado em manter seu país
livre e independente de qualquer potência estrangeira.
O resultado de seu governo e de
seus sucessores, Carlos Antônio Lopez e Solano Lopez se caracterizaram
basicamente pela modernização militar do país.
Na década de 1960, sob governo
incialmente de Carlos Lopez e, depois, de Solano Lopez, o Paraguai se envolveu
na guerra contra o Brasil, a Argentina e o Uruguai (Tríplice Aliança), guerra
que arrasou os recursos humanos e econômicos do país.
O Uruguai
Durante a permanência de D. João
VI no Brasil, a Terra Cisplatina (anterior Uruguai) foi ocupada e anexada ao
Brasil, tendo somente alcançado a independência após a guerra Cisplatina,
influenciada pelos argentinos (1825 – 1828).
Desde então, a vida política do
Uruguai oscilava entre os partidos Blanco,
de caráter conservador e ligado a Rosas da Argentina, e o Colorado, liberal e associado ao governo imperial do Brasil.
Disputas políticas entre os
partidos provocaram conflitos e intervenções armadas do Brasil nas décadas de
1850 e 1860. A última das quais se desdobrou na Guerra do Paraguai que ao final
levou à instalação de uma ditadura militar destacando-se o general Lorenzo
Latorre (1876 – 1880).
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