Aluna:
Christine Lobo
A Revolução Russa que ocorreu em
1917 não pode ser considerada um fato inevitável, apesar de a I Guerra Mundial
ter tornado mais possível a sucessão dos acontecimentos que depuseram o Czar do
poder em fevereiro de 1917.
A Rússia Czarista contava com
cerca de 170 milhões de habitantes, sendo que 80 – 85% deles viviam nos campos
do país em pleno século XX. A industrialização no país era recente, tendo
começado no fim do século XIX. O capital estrangeiro (inglês, alemão, belga,
francês) era aquele que mais atuava no setor industrial do país. A burguesia
era fraca e seu número não era elevado. Ela dominava somente as pequenas e
médias empresas do país, já que as grandes estavam nas mãos dos capitalistas
estrangeiros. A burguesia era influenciada pelas ideias liberais do Ocidente,
descontente com o autoritarismo do Czar e com a administração corrupta.
O operário era de origem rural,
não qualificado. Por isso, seu salário era baixo e as condições de trabalho
eram precárias e sua vida, miserável. Era receptivo às ideias socialistas. O
país estava longe de conquistar uma reforma agrária.
Já o camponês viveu o esquema
feudal até 1861 (fim da servidão) dentro de uma estrutura comunitária, no
chamado MIR (comunidade aldeã que era a célula econômica e social básica). Com
o fim da servidão, teve início uma “reforma agrária” pois começaram a ser
vendidas as terras a preços altos para os camponeses, que não podiam
compra-las, e tal fato agravou a desigualdade social. Muitos homens das cidades
se tornaram proprietários e poucos camponeses enriquecidos puderam comprar
terras. Isso levou ao agravamento da crise social, com o empobrecimento de
muitos camponeses e ao surgimento do kulaks (burguesia rural).
Tudo isso nos faz pensar em como
foi possível ter acontecido uma revolução socialista em um país semifeudal e
com um capitalismo incipiente. Haveria condições históricas no país para a
construção de um socialismo democrático?
Sabe-se que, a Revolução Russa
alterou a geopolítica mundial, tendo sido um dos maiores acontecimentos do
século XX. Ela serviu de referência socialista para muitos países do mundo e
constituiu um contraponto ao sistema capitalista.
A estrutura
pré-revolucionária
Na Rússia pré-revolucionária, a
monarquia ainda era absolutista. O Czar era considerado o representante de Deus
na terra e ele era apoiado pela aristocracia rural, pela burocracia civil, pelo
Exército e pela Igreja Ortodoxa (que impunha a religião para os russos).
Havia também ausência de
liberdades individuais e repressão às oposições do regime do Czar. A censura
era atuante. Além disso, corrupção, arrogância e desprezo pelo povo eram ações
frequentes do Estado. As diferentes nacionalidades eram marginalizadas pelos
russos. A perseguição política era grande e tanto a língua quanto a religião
eram impostas ao povo.
Como já dito anteriormente, a
Rússia era uma nação semifeudal. A terra era um grande problema, já que poucos
podiam acessá-las. Ou seja, havia a concentração de terras.
O Czar, que era extremamente
autoritário, prendia e executava incontáveis habitantes. As injustiças sociais
eram preocupantes.
Estrutura Econômica: economia
majoritariamente agrária, contando com várias técnicas para o cultivo. A base
da economia era a agricultura (concentração de propriedade e relações de
trabalho desiguais).
Industrialização: baseada em
investimentos de capital estrangeiro. A burguesia era fraca politicamente e os
polos industriais eram as cidades S. Petersburg, Moscou e Kiev.
Estrutura Social: registrada por
valores aristocráticos. A estrutura era anacrônica, ou seja, ultrapassada, fora
de seu tempo, sendo composta pelo operariado industrial (concentrado em poucos
lugares, possuíam longas jornadas de trabalho, salários e condições precárias,
além da existência do trabalho infantil); pelo campesinato (cujo grande desejo
era o de alcançar as terras) e pela burguesia (fraca, que vagava pela sociedade).
Estrutura Política: o absolutismo
ainda é o tipo de governo utilizado na Rússia. Após 1905, os partidos políticos
começam a aparecer, assim como o Parlamento, que foi chamado de Duma. Era um
regime autoritário e centralizado, além de ser um império plurinacional, com
diversas nações subordinadas aos russos. Muitos povos tinham desejo de
autonomia.
Um ponto importante a ser
explorado é o de que com o operariado concentrado, a mobilização política é
favorecida e os operários comunistas irão surgir dessa maneira.
O liberalismo e as ideias
marxistas vindos do Ocidente chegam à Rússia somente no fim do século XIX. É
por isso que ela pode ser considerada anacrônica nesse período.
Muitos problemas eram comuns de
acontecer na Rússia: duros invernos, baixos salários, perdas de colheita,
difusão de doenças, altos preços de produtos industrializados, miséria e fome.
A Oposição
A oposição desenvolveu-se na
clandestinidade, sendo baseada em ideologias ocidentais. Eram muito reprimidas
pelo governo absolutista czarista.
. O Populismo: valorização do
camponês, defendendo um socialismo agrário baseado no MIR, exaltando as
tradições rurais e influenciado pelo anarquismo. Valorização do camponês e
adeptos ao terrorismo. Era o Partido Socialista Revolucionário.
. O Marxismo: antes existia como atividade intelectual
apenas, mas deu origem ao Partido Operário Social Democrata Russo, que se
dividiu em duas tendências em 1903.
1) Bolcheviques (Lênin): eram favoráveis à atuação
revolucionária, pretendiam acelerar o processo de luta de classes através de
greves e propagandas; condenavam o terrorismo; apoiavam-se nos operários e
pretendiam conseguir uma aliança com os camponeses. Era um partido mais
fechado, que defendia a participação de ideias profissionais. Significa
maioria.
2) Mencheviques (Martov): acreditavam que a luta de
classes levaria à destruição da sociedade burguesa; condenavam o terrorismo;
eram moderados e abertos à aliança com quaisquer elementos anti-czaristas,
mesmo a burguesia. Era um partido mais aberto, contando com outros grupos
sociais.
O Anarquismo (nihilistas)
1) Bakunin: pretendiam destruir a sociedade burguesa pela
ação direta contra o czarismo; defendiam o terrorismo como forma de ação.
2) Kropotkin: pregavam a desobediência civil para
desorganizar a sociedade e eram contra a violência.
O Liberalismo: Partido Constitucional Democrata, que
pretendia estabelecer uma monarquia constitucional no estilo ocidental,
reunindo elementos da burguesia e a nobreza liberal (conhecidos como cadetes).
A Revolução de
1905
A notícia do massacre conhecido
como Domingo Sangrento e a insatisfação social resultante da derrota na Guerra
Russo-Japonesa, a centelha da grande revolta de 1905 foi acesa. Com o
descontentamento, greves foram muito frequentes na Rússia no ano de 1905. Quase
1 milhão de trabalhadores cruzaram os braços. Esse descontentamento foi
provocado pela:
. Existência de camponeses que sofriam com impostos, com os altos
preços dos produtos industriais e por não serem proprietários.
. Situação explosiva das cidades devido à miséria, à fome e a
epidemias (cólera).
. Política de russificação (imposição da língua russa e religião
ortodoxa).
. Aumento da oposição, feita especialmente pelos partidos citados
acima.
Causas imediatas (que precipitaram a revolução):
. Perda da Guerra Russo-Japonesa, que representou a fragilidade do
império czarista. Foi uma guerra imperialista, pois os russos queriam dominar
outros países. Pela primeira vez, uma potência europeia é vencida por um país
asiático. Isso desmoralizou a Rússia externamente e demonstrou a fraqueza do
império czarista.
. As guerras frequentes e o terrorismo.
O Domingo Sangrento
Um padre ortodoxo
liderou um grupo grande de trabalhadores manifestantes, tendo redigido uma
carta pedindo maior compreensão pelos direitos dos mesmos. A população se
mobilizou, cantou músicas e levou velas, se dirigindo ao Palácio de Inverno.
Tal manifestação
terminou com centenas de mortes, já que os policiais abriram fogo contra os
civis. A população pensava que o Czar poderia ouvi-los e a crença de que o Czar
iria proteger a sua população foi abalada, com a destruição de sua confiança
neste domingo. Esse movimento foi o auge da crise revolucionária e modificou o
curso da história russa.
'
O abismo entre as
camadas populares e a nobreza e a massa dos camponeses continua crescendo. A
situação de crise econômica e social se agrava cada vez mais.
O movimento de
1905 alastrou-se pelo país e traduziu-se em ondas de sangue, destruição de
propriedades da nobreza e manifestações contra a aristocracia e a Igreja
Ortodoxa.
Esse perigoso
quadro explosivo estendeu-se às Forças Armadas: em junho, os marinheiros do
Encouraçado Pontemkin, o maior navio de guerra da marinha czarista, protestaram
contra os maus tratos, a má alimentação e a rígida e violenta disciplina
imposta pelos oficias de origem aristocrática. Após a execução dos oficiais, os
marinheiros declararam sua rebelião contra o regime.
No mês de outubro
de 1905, as greves atingiram seu auge. Insuflados principalmente pelos
bolcheviques, cerca de 2 milhões de operários paralisaram suas atividades. Esse
é o momento de surgimento dos sovietes, cuja
tradução é conselhos, constituídos por representantes do operariado.
Resumindo tudo o
que aconteceu na revolução de 1905: greves, domingo sangrento, insurreições
(motins), manifestações e criação dos sovietes de S. Petersburg.
Apesar de
reprimir muitos movimentos, o Czar decide aceitar algumas concessões para a
população, demonstrando que o governante não era inatingível. Ele fez promessa
de reformas e instalou a Duma (Parlamento).
A Duma é um
parlamento conservador e facilmente manipulável pelo Czar. É a 1ª concessão
mais importante. A 2ª foi a autorização para que os partidos políticos se
formassem, o que deu origem ao Partido Socialista mais tarde.
Ele também
permitiu o surgimento dos sovietes. Ele não reprimiu o seu movimento. Os
sovietes não representavam um partido político e nem um sindicato. Ele era um
conselho de trabalhadores. Formado por operários, camponeses e pessoas de
diferentes ofícios. Alguns representantes dos trabalhadores das fábricas
participavam dos sovietes para a discussão da política, para a solução de
questões. Assim, os trabalhadores tinham voz no ponto de vista político. Era
uma espécie de comitê.
Os sovietes
realizam constantes reuniões. Era um organismo que permitia a comunicação entre
os operários e que permitia a tomada de decisões. Tem como funções a divulgação
e a mobilização.
O Czar praticamente
ignorava os partidos políticos, a Duma e as revoltas acontecendo. Na prática, o
sistema político permanecia o mesmo. A Duma não possuía autoridade alguma.
Em 1914, quando a
guerra começa, a Rússia protege os eslavos e batalha principalmente contra os
austríacos. Ela havia feito alianças com a Inglaterra e a França, e os três
países formaram a Tríplice Entente. O Czar não sabia o que fazer, pois ambos os
países haviam emprestado muito dinheiro ao país. Por isso, sair da guerra
significava abandonar os países que tinham ajudado a Rússia.
A situação na
Rússia caminhava se mau a pior. Muitos oficiais e soldados abandonaram seus
postos na guerra. A crise de 1914 a 1917 é crescente e os problemas são cada
vez maiores. Com as greves acontecendo, o Czar enforca muitos dos homens que
participavam delas. Ele estava desesperado.
O êxodo urbano
tornava-se cada vez mais frequente, já que não mais havia comida nas cidades.
Já que a produção agrícola diminuiu, muitos migraram para os campos.
Em fevereiro de
1917, o Czar é deposto e um governo provisório é instaurado, no qual há a
formação de bases no próximo regime. Nesse momento, pode-se caracterizar o
pensamento dos russos como liberal. Já
havia o desejo de aprofundar a Revolução no Socialismo.
Razões para a Rússia ter entrado na guerra
. Vinculação aos compromissos na Tríplice Entente.
. Dependência dos investimentos franco-britânicos.
. Pan-eslavismo.
Consequências da guerra para a Rússia
. Perdas humanas e materiais.
. Queda da produção e elevação dos preços e racionamento de produtos.
Função Histórica
. Aumento das contradições da estrutura russa.
. Revelação da ineficiência e do anacronismo do regime.
. Influência nas diretrizes políticas dos partidos.
Curiosidade – Quem foi Rasputin?
Ainda pequeno Rasputin começou
a chamar a atenção dos moradores do vilarejo em que vivia, onde alguns achavam
o menino era esquisito, enquanto outros diziam que tinha poderes sobrenaturais.
Em 1906, Rasputin se
mudou para São Petersburgo, e apenas dois anos depois ele foi apresentado ao
Czar Nicolau II e sua esposa, Alexandra Feodorovna. Foi aí que Rasputin começou
a ganhar sua fama.
O monge foi procurado
pelos czares que estavam desesperados para encontrar uma cura para o filho
Alexei, herdeiro do trono. O menino sofria de hemofilia e Rasputin se tornou a
única pessoa capaz de parar os sangramentos do príncipe.
Ainda assim, após a
primeira “cura”, Rasputin ganhou a confiança da czarina e, durante os cinco
anos seguintes, passou a exercer grande influência sobre o tratamento de
Alexei. O monge assumiu o papel de conselheiro pessoal da czarina, e a mulher
defendia sua presença na corte na crença de que Rasputin era a única pessoa
capaz de salvar a vida de seu filho.
Segundo alguns, a
influência do monge teria provocado o distanciamento dos monarcas de seu povo. Tudo
isso ocorreu em um período que antecedeu a Revolução Russa, e a tensão aumentou depois de o monge lançar a previsão
de que a Rússia cairia em desgraça durante a Primeira Guerra Mundial, levando o
Czar a partir para a batalha e deixar Alexandra encarregada dos assuntos
domésticos. Os críticos acusavam Rasputin de usar seus poderes para envenenar a
mente da czarina, embora ele tivesse pouca influência sobre assuntos políticos. Foi então que as tentativas de
assassinato começaram. A primeira delas ocorreu em 1914, pelas mãos de uma prostituta
que esfaqueou Rasputin, mas o monge milagrosamente sobreviveu. Depois, em 1916,
um grupo de nobres elaborou um plano organizado que acabou funcionando.
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