segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Modernização da Agricultura

Aluna: Christine Lobo
Nas últimas décadas, a agricultura brasileira sofreu profundas transformações envolvendo os mais diversos aspectos, como relações de trabalho, padrão tecnológico, distribuição espacial da produção, relações intersetoriais – formação do complexo agroindustrial -, inserção internacional e padrão de intervenção estatal.

1) Relações de trabalho:
 Com a maior mecanização da produção, mão de obra utilizada em espaços agrários diminuiu. A mão de obra qualificada passa a ser menos utilizada.

2) Padrão tecnológico:
Uso de insumos, máquinas e de sementes laboratoriais que substituem as sementes criollas.

3) Distribuição espacial da produção:
Expansão de áreas e de gêneros agrícolas para diversos locais. Os agricultores não dependem mais somente de recursos naturais. Mesmo em locais com climas e relevos desfavoráveis para a produção – União Europeia -, o pacote tecnológico criado com a Revolução Verde passa a ampliar a produção e a controlar a natureza.

4) Relações intersetoriais:
Foi criado o circuito produtivo do agronegócio, passagens necessárias para que os alimentos produzidos através do pacote tecnológico da Revolução Verde pudessem chegar aos consumidores.

5) Inserção internacional:
Troca de economias e capital externo entrando em diferentes países.

6) Padrão de intervenção estatal:
Estado passa a subsidiar vários espaços agrícolas, oferecendo também incentivos fiscais.


A modernização da agricultura brasileira foi planejada e concebida como uma agente contrária à Reforma Agrária gestada no âmbito da esquerda brasileira ao longo de 1950 e 1960. De acordo com os defensores da modernização, seria possível desenvolver plenamente a capacidade produtiva da agricultura sem distribuição de terra, contrariando os que defendiam a Reforma Agrária, para quem a democratização da terra era condição indispensável para o desenvolvimento da agropecuária brasileira.
Somente é possível falar de um processo de modernização plena após o Golpe de 1964 com a instauração da ditadura militar, pois foi a partir daí que uma série de ações coordenadas foi empreendida para impulsionar tal processo. Logo, a modernização da agricultura não pode ser compreendida sem a indução do Estado, pois ele criou as condições para a internalização da produção de máquinas e insumos para a agricultura, um sistema de pesquisa e extensão voltado para esse processo de modernização e as condições financeiras para viabilizar tal fato.
A essência dessa modernização técnica da agricultura que nega a necessidade da Reforma Agrária é uma aliança do capital agroindustrial (escala global) com a grande propriedade fundiária, sob o generoso patrocínio fiscal, financeiro e patrimonial do Estado.
Deve-se sempre lembrar que essa modernização foi excludente no Brasil e que acompanhou a difusão da Revolução Verde pelo mundo, com os pensamentos contrários à Reforma Agrária e favoráveis à utilização de máquinas, insumos químicos e sementes melhoradas, que fez do Brasil o maior consumidor mundial de agrotóxicos. Com isso, houve o desaparecimento das sementes criollas.
O que se tem agora é uma agricultura padronizada que se impõe à diversidade ambiental, adequando os ambientes aos padrões industriais e impondo aos povos um padrão alimentar que atenda aos interesses das grandes corporações agroindustriais.
O processo de modernização da agricultura só foi possível com a implantação de um sistema de pesquisa, assistência técnica e extensão rural que forneceu as bases para a difusão do novo padrão produtivo. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolveu uma série de pesquisas voltadas para a adaptação de variedades às condições climáticas e pedológicas (estudo do solo) brasileiras, das quais o principal exemplo foi a adaptação da soja ao cerrado. Técnicos agrícolas, agrônomos, veterinários e extensionistas rurais difundiram as modernas técnicas entre os agricultores ao mesmo tempo.
Para a difusão deste moderno padrão produtivo, foi de extrema importância a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) em 1965, pois ele viabilizou a compra de máquinas e insumos pelos agricultores, além da criação de fundos para estimular a indústria de fertilizantes, adubos e outros insumos.
Os efeitos da modernização causam muitas discórdias. Para alguns autores, ela é generalizada, enquanto, para outros, ela é restrita e excludente. Muitos acreditam que várias pessoas sofreram com a modernização, já que não conseguiram acompanhar o desenvolvimento da indústria e a dependência que passaram a possuir de máquinas. É importante destacar que a modernização se concentrou basicamente em produtos voltados para o mercado externo ou para a agroindústria e atingiu principalmente o Sul, o Sudeste e o Centro-Oeste.
O que é inegável é que a modernização produziu ampliação da concentração da propriedade, da exploração da terra e da distribuição regressiva da renda, ou seja, ampliou a desigualdade no campo brasileiro ao permitir que os grandes proprietários se apropriassem de mais terras e de mais riqueza em detrimento dos trabalhadores rurais, dentre os quais avançou a proletarização e a pauperização (empobrecimento).
    Estrutura Fundiária
O conceito de distribuição fundiária refere-se ao perfil de distribuição das terras numa dada sociedade. Assim, quanto mais desigual a distribuição das terras, mais concentrada será a estrutura fundiária, ao passo que quanto mais igualitária for a distribuição, mais desconcentrada ela será.
No Brasil, apesar das inúmeras lutas e revoltas camponesas, da resistência indígena e quilombola, o latifúndio prevaleceu e impôs ao país a condição de um dos recordistas mundiais em monopolização de terra. Iniciada com o instrumento colonial das sesmarias – que dava aos senhores de terra o direito de exploração econômica das mesmas – e intensificada pela Lei de Terras – que transformou a terra em mercadoria e assegurou a continuidade do monopólio privado -, a concentração fundiária segue sendo uma marca no campo brasileiro.
O movimento de concentração de terras foi impulsionado pelas grandes culturas de exportação, pela expansão do agronegócio e pelo avanço da fronteira agropecuária em direção à Amazônia. No caso de São Paulo, o crescimento deveu-se à cultura de cana-de-açúcar.
Um efeito da concentração fundiária é a expulsão de trabalhadores do campo. O resultado do monopólio de terras no Brasil é a precariedade da vida nas favelas e periferias das metrópoles, para onde foram empurrados mais de 50 milhões de brasileiros expulsos do campo nas últimas décadas. Tem impactos também na dimensão produtiva, seja porque boa parte das grandes propriedades pouco produz, seja porque, quando produzem, concentram-se na produção de poucos produtos, destinados à exportação ou a fins industriais. A estrutura fundiária concentrada se converte também em um fator de insegurança alimentar, devido à pecuária extensiva e à plantação ligada à indústria (insumos e agrotóxicos).
A concentração fundiária também explica dois grandes fatos problemáticos nos campos brasileiros: a violência e a devastação ambiental.
Por tudo isso, a Reforma Agrária continua sendo uma luta fundamental por uma sociedade mais justa e democrática.
    Reforma Agrária
Reforma Agrária é um programa de governo que busca democratizar a propriedade da terra na sociedade e garantir o seu acesso, distribuindo-a a todos que quiserem usufruir dela e nela produzir.
Para alcançar esse objetivo seria necessária a desapropriação das grandes fazendas pelo Estado, e a redistribuição geral dessas terras para camponeses e pequenos agricultores.
No Brasil, nunca houve um processo de Reforma Agrária, por isso a concentração fundiária aumenta a cada ano que passa, causando expropriação de terras, o aumento da pauperização e de proletarização, além de provocar impactos ambientais (com o uso de insumos e agrotóxicos em excesso) e sociais (poucos produtos para o mercado interno, já que a produção concentra-se no mercado externo com a monocultura).
A proposta da reforma agrária combina a distribuição de terras com a instalação de agroindústrias cooperativas em todas as comunidades rurais, para que todos possam ser atingidos no processo de desenvolvimento da agricultura. Compreende a necessidade de adoção de novas técnicas agrícolas, baseadas na agroecologia, que consigam aumentar a produtividade das áreas.
    Agroecologia
A agroecologia pode ser considerada uma construção recente e constitui, em resumo, um conjunto de conhecimentos sistematizados, baseados em técnicas e saberes tradicionais, o que se contrapõe às propostas da Revolução Verde.
É um conceito contra hegemônico em relação ao agronegócio e à Revolução Verde. Valoriza as sementes criollas (tradicionais) e o tempo da natureza, ou seja, o tempo que a natureza necessita para desenvolver as diferentes culturas.
As Ligas Camponesas e o MST se apropriarão dos discursos da agroecologia para defender a Reforma Agrária.
    Principais Áreas Agrícolas brasileiras
Cerrado
. A região do Cerrado inclui estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Tocantins, Minas Gerais e parte de São Paulo.                                                                                   
. O Cerrado tem como uma de suas principais características as árvores retorcidas e dispersas umas das outras.                                                                                                                                       . Clima: tropical semi-úmido, inverno seco e sem chuvas.                                                            
. As massas de ar que influenciam a região do Centro-Oeste são:
- MEC (Massa equatorial continental): se forma na região amazônica. Portanto, é úmida e quente, trazendo tal clima para o Centro-Oeste no verão.                                                              
– MPA (Massa polar atlântica): vem do sul do país, sendo fria e úmida, responsável pelas frentes frias. Provoca um fenômeno denominado “friagem”, de temperatura baixa e repentina.                         – MTA (Massa tropical atlântica): vem do oceano Atlântico, sendo comum em todo país. É quente e úmida, influenciando mais no inverno.
. O Cerrado tem um solo muito ácido por conta da escassez de chuvas, por isso não é a melhor área brasileira para a produção agrícola. A calagem é muito comum no Cerrado, método em que se deposita calcário no solo para diminuir sua acidez. Além disso, foi preciso implantar uma infraestrutura adequada de transportes (rodovias para escoar a produção).
. É muito comum encontrar gaúchos vivendo na região do Cerrado e esse é um dos motivos para a concentração fundiária do local. Esses gaúchos migram do Rio Grande do Sul constantemente para o Cerrado, buscando melhores condições de vida. Muitos conservam suas tradições gaúchas, numa forma de reterritorialização (C.T.G. – Centro de Tradições Gaúchas). Ao chegar ao Cerrado, os gaúchos estabelecem uma relação de poder e muitos são poderosos. Eles encontram terrenos baratos na região Centro-Oeste, onde produzem uma grande quantidade de soja. A produção de gado também é extensiva.
As terras antes vistas como inaptas para a produção foram sendo transformadas por uma série de insumos e passaram a não mais depender dos recursos naturais para o cultivo.
. Os estados que fazem parte do Cerrado foram os que mais cresceram em termos relativos populacionais. Sua taxa de urbanização (quando a população da cidade excede a população do campo) foi a mais alta nos últimos anos.
Obs.: Fronteiras Agrícolas: regiões ainda não ocupadas de forma efetiva, mas que passam a ser ocupadas à medida que ocorre exploração dessas áreas. Exemplo de uma fronteira agrícola é a Amazônia, local pouco ocupado. O Cerrado já foi considerado uma fronteira agrícola (até 1970), tendo sido ocupado de forma mais efetiva após isso.
Obs.: quando as cidades começam a desenvolver um fenômeno chamado de conurbação, há um crescimento horizontal de tais lugares, que passam a estar interligadas economicamente e socialmente, como as redes técnicas e o fluxo de capital, serviços, mercadorias e pessoas. Forma-se então, uma região metropolitana.
Além da soja, começou a desenvolver-se no Cerrado carne bovina, algodão, milho, laticínios, frango, açúcar e café. A produção de soja causa muitos impactos, tais como o prejuízo de biomas da região. A técnica da queimada para a produção de tal mercadoria causa tal impacto.
Mapitoba
. Nova fronteira agrícola que inclui estados como Maranhão, Tocantins, Bahia e Piauí.                
. Região que pertence ao Cerrado, onde há muita produção de soja e de milho.                                       
Planalto Ocidental Paulista
. Formado por Ribeirão Preto e Araraquara. Desde o século XIX, o café que era importante no oeste paulista foi substituído pela laranja (muito escoada para a Europa, já que o clima do continente não é favorável à produção de tal produto) e pela cana de açúcar, que se intensificou a partir de 1975. Em 1973 ocorreu a Primeira Crise Mundial de Petróleo. Com isso, a Petrobras passou a procurar alternativas para que o combustível brasileiro pudesse continuar em seus níveis normais e, com isso, passou a subsidiar a produção da cana de açúcar. A mecanização da cana não era grande (hoje em dia é muito mecanizada em terrenos planos) e a mão de obra utilizada era a de boias frias (inicialmente, pelo menos).
Os trabalhadores do corte de cana vinham do norte de Minas Gerais, cujo clima equivale ao do Nordeste.
Fatores importantes para o desenvolvimento agrário:                                                                   
- área plana, solo fértil, regime de chuvas apropriado à produção de cana e laranja, clima favorável, localização, escoamento de produção no porto de Santos, ferrovias construídas, redes técnicas, mão de obra, universidades (USP, UNESP, UFSCAR, UNICAMP) que qualificam mão de obra e produzem tecnologia e insumos para a atividade.
Zona da mata nordestina

Vegetação originária: mata atlântica.                     
Clima: tropical úmido.                                                                                                                             Solo Massapê extremamente fértil.                                                                                

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